Como todos os anos acontece, ontem foi dia de reunião de
condomínio do prédio onde moro. Sendo um evento pouco glamoroso a puxar para o aborrecido,
o que faço com o meu marido é que cada um de nós se vai revezando: uma vez vai
ele outra vou eu. Ontem calhou-me a mim!
Não tinha tido um dia particularmente ligeiro e ia com
aquela sensação de que ia dizer que sim a tudo para ver se não demorava mais do
que o necessário pois precisava de descansar a cabeça.
Eu já tive várias lições na vida que me deviam ter ensinado
que não vale a pena fazer futurologias e nem sempre o que se adivinha negro e
sombrio assim o é. Mas mesmo assim continuo a cair nesta dinâmica de pensamento
negativo. Tonta que sou!
Lá discutimos o orçamento, lá aprovamos o orçamento, lá
fizemos as nossas considerações e pedidos, lá fizemos tudo o que uma boa
reunião de condomínio merece.
Primeiro parêntese: vivemos numa era de opinião rápida e
gratuita, de gente que se odeia virtualmente, presencialmente, que o seu bem passa
pelo mal dos outros, que só sabe dizer mal, ninguém é amigo de ninguém, que não
há almoços grátis, que o que é meu é meu e o que é teu é nosso, do venha a nós,
ui… sei lá… tanta coisa má que nem consigo enumerar tudo.
Voltando à reunião: já levava na cabeça ressalvar um grande ponto
positivo do prédio que é a Casa do Lixo. Tinha até marcado um lembrete no
telemóvel para não me esquecer de referir. Desse por onde desse queira ter uma
palavra de simpatia para todos os vizinhos.
E aqui volto a fazer um parêntese: a casa do lixo do meu
prédio dá gosto de lá entrar. Sempre limpa, o lixo todo organizado nos diversos
contentores, não há lixo nenhum no chão e acima de tudo não cheira mal.
Pedi palavra e disse que queria dar os parabéns a todos os
vizinhos pelo esforço de ter tudo tão organizado. Espanto meu quando a gestora
do condomínio disse:
Ah! Isso é o Sr. Zé que faz!
Nem percebi bem. O Sr. Zé? Sim é ele que trata da casa do
lixo diariamente!
Após a sensação inicial de desapontamento (pois acreditava
que era um pouco de todos) senti uma profunda admiração pelo vizinho Zé.
O sr. Zé é uma pessoa que não recebe nada em troca, mas zela
pelo bom funcionamento dum espaço que sendo seu não é só seu. Não pede nada em
troca dando o seu melhor como pessoa, cidadão, condómino, que vive integrado
numa sociedade.
O sr. Zé separa o lixo que está colocado de forma errada
dentro dos eco-pontos, lava o chão, verifica se um caixote está cheio, sela-o e
abre o outro para que não haja lixo fora do contentor. Faz isto tudo porque
sim, porque acha que está a fazer a coisa certa. E está!
Afinal, e se olharmos bem à nossa volta, não há só gente reles
e má. De certeza que há muitos senhores Zé por aí que fazem da nossa vida um
bocadinho melhor. Demos-lhe valor, aprendamos com eles e acima de tudo
sejamos uns para os outros que ninguém vive só.
Não sei se me vai ler, mas que fique aqui registado que
tenho muito orgulho em ser sua vizinha e que é uma referência de comportamento
para todos.
Malta, tenham um excelente fim-de-semana.
Mafalda
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