Avançar para o conteúdo principal

Os camarões da Manuela Pereira tornam a vida bem melhor


Mulher imparável e com uma energia infindável, Manuela Pereira é uma das pessoas que não podia deixar de recomendar. Esta cozinheira de mão cheia é a minha sogra, a minha santa sogra como costumo dizer, e que me lembre, já lá vão 18 anos, nunca comi nada feito por ela que não gostasse.

Nasceu em Lisboa, mas a Beira Alta faz parte dos seus genes e, como tal, nunca pode faltar comida na mesa. É filha única e mãe de um rapaz (o meu marido) e avó de dois meninos (os meus filhos).

Vamos conhecê-la!
Começou a cozinhar cedo, aprendendo algumas coisas com a mãe, mas aprendeu mais por ser curiosa. Os ingredientes vinham parar a casa e com eles dava asas à sua imaginação: “Morava em Gouveia, não fazia compras, o que vinha era o que se fazia. Gostava de testar bolos e os que não corriam bem iam parar a debaixo da cama para a minha mãe não perceber. Nos aniversários era eu que ajudava a empregada, mas era um prazer.”

Como deu conta do recado, à medida que cresceu, ganhou mais responsabilidades. “Deixámos de ter empregada e passei eu a assumir a cozinha. Também casei cedo, com um marido que nem ovos sabia estrelar e com grande vida social. Hoje estou com outra pessoa que ainda tem mais gosto em receber e fazer grandes convívios à volta da mesa, por isso já faço tudo sem pensar.”

Tornou-se mulher precavida. “Tenho sempre coisas em casa, poderei sempre arranjar qualquer coisa, nem que sejam uns ovos mexidos”, garante.

A organização, a forma como gosta de ter a sua cozinha, é o seu ponto forte. “Gosto de ter as coisas organizadas e normalmente penso nas refeições (convívios) com um ou dois dias de antecedência. Primeiro faço uma lista e, na véspera, vou ao supermercado comprar tudo o que preciso. Quando tenho os netos, o filho e a nora em casa, sei que vou ter de comprar peixe para assar e também massa e recheio para umas pizas. São pedidos que nunca mudam, mas que faço com muito gosto!”

Quando está a cozinhar, a melhor ajuda é não ter ninguém por perto. “Sou muito individualista na cozinha, tenho dificuldade em me concentrar quando estão sempre a fazer perguntas. Eu, no momento de cozinhar, estou a pensar no que vou fazer e tenho dificuldade em me abstrair das perguntas que vão surgindo; não ajuda, só atrapalha.”

Considera-se um bom garfo, gosta de quase tudo e de experimentar novos sabores e combinações, mas há exceções. “Não sou capaz de comer iscas, nem miudezas, nem coelho. A primeira foi por uma triste coincidência: fui convidada pelas minha amigas que estudavam medicina a estar presente no Teatro Anatómico enquanto faziam uma autópsia. A dada altura estavam a cortar o fígado do homem, que era de um tamanho monstruoso, e isso impressionou-me. Chego a casa e a minha mãe tinha iscas para o almoço. Pronto, foi o fim! Nunca mais. E coelho porque a minha avó criava os coelhos e eu andava com eles ao colo… depois apareciam-me no prato.”

Contudo, a maior parte das experiências e memórias culinárias são positivas. Este bisque de camarão que vamos aprender a fazer é uma das boas memórias. “Esta sopa, recorda-me a minha infância.  A minha mãe comprava uns camarões pequeninhos do rio (negros, escuros), que cozinhava em água, sal e casca de cebola. Quando cozidos ficavam vermelhos. Fazia os rissóis e usava as cabeças para fazer um caldo de camarão. Esta imagem ficou-me na cabeça e no paladar.”

Este prato acaba por ser um “dois em um”, aproveita todos os sabores e partes do camarão.
Fiquem então a saber como se fazem as gambas salteadas e o bisque (sopa) de camarão:
Para 6 pessoas:

2 kgs de gambas 20/30
-1 cebola
- 1 talo de citronela (opcional)
- Sal
- Limão
- Alho fresco
- Alho em pó
- Pimenta preta
- Farinha
- Whisky
- Azeite
- Fatias de pão
- Coentros

Preparação:
Se as gambas não estiverem descongeladas, fazê-lo num recipiente com água. Descascam-se, retirando as cabeças para uma panela eliminando as cascas.

Depois de limpas retirar a tripa (ver aqui como se faz). Temperar com sal, limão e alho em pó, reservando nesta marinada por uns 20 a 30 minutos.


Entretanto e, para adiantar trabalho, cozinhar as cabeças das gambas cobertas por água durante 30 minutos.

Nota da autora: a quantidade de água servirá de referência para a quantidade de sopa a fazer. O melhor é começar por fazer a sopa, pois os camarões salteados precisam de muito pouco tempo para ficarem prontos.

Sopa de cabeças ou bisque de camarão
Depois das cabeças cozinhadas durante meia hora, triturar tudo e passar por um coador fino e reservar o líquido.

Nota da autora: deve repetir-se este processo as vezes que forem necessárias para que não passem cascas para a sopa.


Num fio de azeite, refogar a citronela e a cebola até esta última estar translúcida.

Nessa altura adicionar uma chávena de farinha e deixar que incorpore no azeite e na cebola.


De seguida, junta-se o caldo de gambas e volta-se a triturar até obter um creme. Atenção: retirar a citronela antes de triturar.


Retificar os temperos, sal e pimenta preta, e servir com algumas gambas cozidas (durante 3 a 4 minutos) e com pedaços de pão frito em azeite e alho.



Gambas salteadas com alho e coentros

Numa frigideira grande adicionar uma quantidade generosa de azeite e 5 dentes de alho cortados em lâminas.

Quando o azeite estiver quente e o alho dourado, acrescentar as gambas uma a uma. É importante que não fiquem sobrepostas.

De vez em quando refrescar com uma tampinha de whisky.

O tempo de cozedura é até ficarem douradas.

Depois de prontas, polvilhar com os coentros frescos e bem picados.

E estas são as duas deliciosas propostas da Manuela Pereira. Espero que gostem, que partilhem e que fiquem com mais algumas opções na vossa lista de receitas.

Nós agradecemos e eu agradeço toda a sua disponibilidade de partilhar este momento comigo e com todos vocês.
Até breve,
Mafalda

Comentários

Mensagens populares deste blogue

Bodião no forno e a empreitada para deixar de comer peixe

O bodião é um peixe que se encontra facilmente na Madeira pois o seu habitat preferencial é  junto á costa em toda a orla rochosa, em locais com muitas algas e também dentro dos portos. A sua cor varia entre o vermelho e o castanho sendo que identifica se é fêmea ou macho, respetivamente. A sua carne é muito branca e densa e é dos peixes que mais gosto. Tem um sabor muito próprio que me leva à minha herança gastronómica. Em qualquer restaurante de peixe há bodião. Normalmente é feito grelhado ou então em filetes fritos. A minha opção de fazer no forno foi por ser mais rápido e também por gostar muito de peixe assado. E vá… porque queria testar esta receita :D Pré-aquecer o forno a 200º. Comecei por fazer o tempero do peixe: Numa trituradora juntei: -6 tomates secos - 2 dentes de alho - 1 pitada de sal - uma mão cheia de mistura de especiarias - duas mãos cheias de manjericão fresco - azeite e vinagre Tudo triturado até ficar uma pasta. Coloquei os peixes num tab

Porque é que risquei o fiambre da minha lista de compras?

Muitos de vocês já devem saber a resposta a esta pergunta mas hoje vou falar um bocadinho deste assunto. Não esperem de mim grandes fundamentalismos ou mesmo reprovação a comportamentos. Vou dar a minha opinião esclarecida sobre o assunto com uma dica ou sugestão de alternativa alimentar a este produto. Vamos então ver como é composto o fiambre. E vou dar um exemplo dum dito fiambre “bom”, o de perú: Lista de ingredientes: Peito de peru (53 %), água, sal, amido, estabilizador (E420), dextrose, lactose, proteínas do leite, emulsionantes (E451, E450), aromas, açúcar, gelificantes (E407, E415, E412), intensificador de sabor (E621), antioxidante (E316), cloreto de potássio, aroma de fumo, conservante (E250). Cobertura decorativa: água, gelatina de suíno, corante (E150). Pode conter vestígios de: soja. Informação retirada do produtor: Ver outras informações . Assim sendo: temos duas vezes no mesmo alimentos adição de dois açúcares (Dextrose + Sacarose), Sal e com os seguintes &

Papas de aveia no forno com frutos vermelhos e o dia do Obrigado!

Umas das resoluções que fiz para o ano de 2018 é fazer com que os meus filhos sejam mais “fáceis” de contentar saindo dos pequenos-almoços tradicionais com cereais e pão. Eu esforço-me acreditem. Tento sempre fazer com que a comida mais saudável saiba bem porque sei muito bem que comer só por comer não adianta de muito e não muda hábitos. Já tinha tentado as papas de aveia com banana e canela , mas não correu nada bem. Como disse na altura, não vou desistir e vou continuar a dar o melhor de mim. As papas de aveia no forno são uma boa opção para mim, porque as faço na véspera e depois guardadas em local fresco aguentam pelo menos uns 3/4 dias. Vi esta receita no blogue do Casal Mistério e pareceu-me muito bem para uma nova tentativa de papas de aveia. Ingredientes Secos - 2 chávenas de flocos de aveia; - 1 colher de chá de fermento; - 1 colher de chá de canela (eu devo ter posto mais); - 1 pitada de sal; - 1 colher de sopa de açúcar de coco Ingredientes líquidos