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A liberdade de expressão, o direito de ser ofendido, ter um blogue!


No passado dia 12 de março assisti à abertura do 8.º Festival Literário da Madeira, no Teatro Municipal Baltazar Dias. O Festival abriu com um debate sobre “O que é a liberdade de expressão?”, juntando à mesa Ricardo Araújo Pereira e Mick Hume.


À parte de gostar muito do Ricardo Araújo Pereira, o tema chamou desde logo a minha atenção e ainda bem que fui mais cedo para garantir lugar, mesmo que isso me tenha custado ter passado pelo enfado dos discursos institucionais. Não conhecia o Mick Hume mas fiquei agradada de o conhecer.
E agora vamos começar. Será que devia ter escrito “mesmo que isso me tenha custado ter passado pelo enfado dos discursos institucionais”? A liberdade de expressão dá-me o direito de escrevê-lo porque é a minha opinião (sendo que é mais ilustrativa do que real) e dá-me o direito de ser “ofendida” por esta mesma afirmação. Ou seja, eu, por razões pessoais, podia não o ter dito, mas tenho o direito de o dizer.

“Decidir não o fazer é completamente diferente de não o poder fazer”, afirmou Mick Hume, para quem as palavras não são uma ameaça. “Uma ameaça é quando a expressão, as palavras, se tornam parte de uma ação. Mas expressar uma opinião violenta não é a mesma coisa. As palavras estão, cada vez mais, a ser tratadas como se fossem um crime — um crime violento. Se disser que ‘odeio ruivos e todos os ruivos deviam desaparecer’, isso é uma opinião ofensiva. Se disser ‘vamos atirar aquele ruivo de um penhasco’, deixa de ser uma opinião e passa a ser uma ação. É aí que está a diferença.”

Este assunto tocou-me porque levou-me a pensar na forma como escrevo e como comunico: tem por base ser o mais correta possível. Contudo, estou a iludir-me, porque de certa forma estarei sempre a mexer com as suscetibilidades de quem me lê. Mesmo que não seja minha intenção fazê-lo.

Ricardo Araújo Pereira deu este exemplo sobre uma rábula feita pelo “Gato Fedorento”:
“O Sócrates estava a tentar convencer-nos de que a salvação do país era o Magalhães e nós tratámos o Magalhães como o Messias. Realizámos uma eucaristia para o Magalhães. Uma vez que aquilo tinha uma ligação com religião, no dia seguinte, houve protestos. O porta-voz da Conferência Episcopal disse que uma coisa era fazer humor com as ondas do mar, outra era brincar com a eucaristia. Aposto com vocês que, se um dia, fizer um programa sobre ondas do mar, assim que acabar vou receber queixas de toda a gente para quem o mar é sagrado.” Mas isso, argumentou Ricardo Araújo Pereira, não significa que se deva selecionar os temas. “Se o fizermos, é óbvio para mim que deixamos de ter sobre o que falar.”

Dei por mim a pensar – e agora vou falar do blogue – que tenho sempre muito cuidado com o que escrevo e isso, por vezes, coarta-me na minha forma de escrever e comunicar. Gosto de usar o humor, gosto de ter preferências, gosto de dizer do que não gosto, mas simplesmente não o faço. Numa das idas ao “Madeira Viva”, na RTP Madeira, onde falo de comida caseira – é o meu foco, o meu fundamento – dei por mim a afirmar que não tenho nada contra os restaurantes e não tenho mesmo, mas senti essa necessidade de esclarecer.

Se escrevo “gosto de massa”, poder-se-á ler “odeio arroz”, e não é isso.

Quanto às fotografias de comida, penso tantas vezes nisso… Tantas! E porquê? É comida! Quando pus a fotografia no meu perfil a segurar um peixe, pensei: “amanhã tenho pessoas a me mandarem mensagens e chamarem-me de arrogante. Que não bastava o peixe já estar morto, como ainda poso com ele”, mesmo sendo esse peixe consumido. Não foi morto para deitar fora. Porque sou totó, andava receosa de abrir a caixa de comentários, porque estava mesmo à espera de uma grande ofensa. Mas não aconteceu e ainda bem. Agradeço a quem pensou nisso ter “decidido não o fazer, que é completamente diferente de não o poder fazer”.

Mas a verdade é que é muito frustrante e até agoniante estar sempre a pensar no que se vai escrever para não ferir as suscetibilidades de ninguém, até porque isso é impossível!

E aqui vamos também abordar outros assuntos, desta vez no seu geral e do meu ponto de vista. Há pessoas que não pessoalizam os comentários, criam capas para ofensas virtuais que – acreditem – são bastante fortes. Entra aqui a questão da resistência de cada um. Há pessoas que se ofendem ou ficam sensibilizadas por assuntos ou questões que a outras nem lhes toca minimamente. Outras há que têm um poder de argumentação bem estruturado e faz parte delas agarrar estes confrontos. Outras nem tanto e ficam a remoer no assunto.

Numa época em que a forma de comunicar e de discutir se tornam universais, penso que é por aí que as ofensas, as discussões e a “liberdade de expressão” ganham força. Ricardo Araújo Pereira focou as redes sociais, apesar deste tema fugir ao âmbito do painel, dizendo o seguinte:
“Não é de agora que as pessoas têm opiniões diferentes. As discussões não são só de agora. O que acontecia é que o Fernando e o Carlos andavam à zaragata, diziam uns impropérios um ao outro, mas a questão ficava por ali. Não ficava escrita para quem quisesse ler! Era chato para aquele grupo de amigos, que podia ter de tomar partido de um ou de outro, mas esta discussão entre o Carlos e o Fernando não se generalizava a toda a “web”.

Voltando um pouco às opiniões violentas que não são atos violentos tenho de fazer uma ressalva muito importante e nesse ponto a minha opinião é bem definida ido contra todos estes argumentos até agora expostos como liberdade de expressão.

A mim custa-me muito ler opiniões agressivas e más nas redes sociais. Já escrevi sobre o assunto, é da minha forma de ser e de estar. Quando não gosto de uma página, de uma pessoa ou de um conteúdo não faço comentários odiosos. Tenho a liberdade e a opção de não as seguir. Não concordo que se ofendam as pessoas só porque sim. Conhecem o fenómeno dos haters não conhecem? Para mim não faz sentido nenhum esse tipo de comportamento. Nesse ponto não tenho volta a dar, não concordo sendo que não estamos a falar de opiniões discordantes estamos a falar de ódio puro e duro. Não consigo concordar de maneira nenhuma!

E sobre este ponto Ricardo Araújo Pereira também refere que é bom que saibamos o que as pessoas pensam e dizem para nos relacionarmos com elas ou não. Fazermos filtros. E sim, podemos bloquear quem nos ofende virtualmente, sendo que uma vez na net para sempre na net, deixa marca.

Na vida real, e voltando à necessidade de saber o que dizem e o que pensam os outros, sabemos quem nos está a ofender e fazemos essa seleção sobre o concreto, na net são muitas vezes anónimos que o fazem.

Voltando a mim e à autocensura vou dar-vos exemplos de fotografias minhas ofensivas nunca publiquei porque achei que ia dar para o torto. Razão específica, ando há muito tempo nas redes, hehehe.

Tantas papas de aveia! Sim sim! 

Esta foi publicada e estou a profanar um monumento que simboliza a morte de tantos judeus no Período do Holocausto. Para mim não teve nem de perto nem de longe esse intuito. 

Protecção de menores no mínimo!

Mais um pouco de maldade para com um ser vivo! Com sorte diriam que estou gorda!

Proteção de menores e prisão perpétua. Vejam os "brinquedos" destes filhinhos de Deus. A cara de parva é para desviar a atenção das armas!

Por fim, agradecer à jornalista Rita Cipriano do Observador por tão bem ter escrito a notícia onde fui buscar as citações neste post.

Bom fim-de-semana e obrigada se chegaram até aqui!
Mafalda

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