Tinha para hoje um post preparado sobre uma receita, como
habitualmente faço. Este espaço é para isso, para partilhar comida e refeições
e outras coisas “levezinhas”. No entanto, somos feitos de várias matérias. Acontecimentos
esporádicos nos fazem pensar e repensar sobre assuntos que, por vezes, nos
passam ao lado porque não é a nossa realidade. É longe, não sabemos bem o que é
isso, mas hoje não sei… a conversa na escola dos meus filhos… uma simples
conversa de nada transformou o meu dia.
Estava um pássaro morto no recreio da escola e eu exclamei
que era a natureza, era Darwin, porque não gosto de pássaros. Houve uma contra
resposta, eu disse que estava a brincar mas que também os pombos me metiam nojo,
que eram ratos com asas e estavam cheios de doenças. A Rosa (senhora da porta)
disse: ratos sim tenho horror! Uma outra senhora que ouvia a conversa disse
apenas o seguinte: é o que tem valido às crianças da Venezuela. O meu
pensamento parou, disse bom dia e vim-me embora. Com aquela frase na cabeça.
Desde pequena que oiço: come porque os meninos de África
queriam tanto comer e não têm! África era o que se sabia de mais concreto. Há
gente a morrer à fome todos os dias em todos os continentes. Aliás há quase
tanta gente a morrer à fome como por doenças associadas à má alimentação. Enfim…
essa é outra conversa.
A minha mãe contava que durante a primeira Guerra, aqui na
Madeira, as pessoas não tinham o que comer. Faziam uma espécie de papas de
farinhas e afastavam os bichos que esta tinha. Tanto foi que em 1990 quando
começou a Guerra do Golfo, lembro-me de ver gente a se abastecer nos
supermercados de uma forma obsessiva, como se a comida fosse faltar para
sempre. Sem perceber muito bem o que se passava (não a guerra mas aquelas
compras desenfreadas) deu-me medo. Fiquei apreensiva.
Eu nunca passei fome, nem sei o que isso é! Os meus filhos felizmente
nem sequer lhes passa pela cabeça esse assunto. Há sempre comida em casa. Sempre!
E nas quantidades que necessitam. Não há racionamento, é abrir o frigorífico,
ir à fruteira, abrir as mercearias e está tudo lá.
Tento todos os dias passar-lhes a mensagem que não devemos
desperdiçar comida, nem água, nem luz nem nada. Devemos fazer um uso racional
daquilo que temos à nossa disposição.
Custa-me muito que não comam tudo o que têm no prato, que
não se guardem os restos para o dia seguinte e acima de tudo que façam birra
para comer e que não gostam e que não querem e mimimimi.
Não estou a ser hipócrita pois há gente que não tem dinheiro
para se vestir e eu tenho pelo menos dois pares de sapatilhas, quatro de calças
de ganga, seis camisas, etc…
O que faço e esforço-me por passar a mensagem é que temos de
ser agradecidos por aquilo que temos e dar bom um uso e bom racionamento aos
bens que detemos.
Há crianças que vão caçar ratos para se alimentar. Há
crianças que não bebem água potável. Há crianças que andam descalças. Há
crianças e adultos que não têm bens essenciais de qualquer género.
É que isto ficou-me mesmo na cabeça!
Mafalda
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